quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Libertação? Como assim?


* Por Adriano Viaro

No dia 13 de maio de 1888 todos os escravos brasileiros estavam livres. A princesa Isabel no uso de seus poderes assinava aquela que seria conhecida como a carta libertadora. A redenção máxima para a escravidão negra no Brasil. Todo o planeta havia de forma sistematizada abolido a escravidão. Todo o planeta era agora entregue a uma nova realidade, e o Brasil, na figura do último país, libertava então seus negros para que fossem vistos como seres humanos normais. 

Não sei se podemos definir esta carta como a redenção, se na verdade, e isso é sabido, sequer resolvidos os problemas (ainda hoje) estão. O Brasil já havia “suavizado” o processo com a lei da proibição do tráfico (para inglês ver), com a lei do ventre livre, com a lei sexagenária (não podemos esquecer que dificilmente um escravo chegava a essa idade) e com a lei Euzébio de Queiroz. Esse processo de suavização tirava das costas dos brancos um fardo. E era exatamente essa a questão principal. Tirar o fardo, retirar a culpa, justificar os erros, mas jamais se preocupar com o bem estar de toda uma população escravizada. 

O Professor-Mestre Jorge Euzébio Assumpção no texto introdutório dos arquivos de compra e venda de escravos, do acervo digital do Museu Público do Estado do Rio Grande do Sul, cita o período de escravidão negra como o “maior holocausto da humanidade”, e não falta de forma alguma com a verdade. Se formos analisar com maior afinco e dedicação, veremos que por quase quatro séculos todas as esperanças, e possibilidades, de evolução africana foram varridas dos olhos marejados de todos os seus filhos. Apenas pela cor de suas peles. 

No mesmo trabalho (brilhante) do APERS, temos os mais brutais registros de um período onde a nossa civilizada população fez de negros simples mercadorias de troca, e fomentação de trabalho escravo. Esses mesmos negros – e isso é esquecido pela humanidade – trabalharam na lavoura de nosso país passando por todos os “setores” de construção de nossa economia, indo até mesmo para as trincheiras de guerras, para defender a nação que não era deles. O mesmo APERS publica outro documento onde compila as cartas de alforria de nosso Estado, relatando tudo em uma hipocrisia só. Cartas que seriam para promulgar a libertação de homens cativos, colocavam apenas regras de esperança em pessoas que teriam, mesmo após a carta, dedicarem-se a servidão. 

Não faltam exemplos disso tudo que estou relatando. Somos os escravos de um passado podre onde fizemos de seres humanos, simples animais de estimação. Então volto ao título: libertação? Será mesmo que libertamos essas pessoas? Será que não faltou nada alteza? Para quem não tem conhecimento, a carta de libertação, popular Lei Áurea, define apenas e tão somente, que não há mais escravidão a partir da presente data, e que revogam-se todas as disposições em contrário. Algo do tipo, estão livres, mas não sabemos o que irão fazer. 

Assim fica mais ilustrado - e fácil - explicar a formação das favelas, e a criação de comunidades expostas a margem de uma sociedade.  E quando falamos em cotas? Quando falamos em políticas afirmativas e reparações (ou indenizações)? Ainda há quem diga que não concorda! O africanólogo Alberto da Costa e Silva diz em seus famoso livro “Um rio chamado Atlântico” que “com ou sem remorso, a escravidão é o evento mais importante de nossa historia”, concordo com Alberto. Concordo e assino embaixo.


Um abraço.

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